Friday, March 23, 2007

 

Missouri


Não tenho a menor idéia de qual seja o significado de “Mzuri Sana”, nome de um trio de hip hop paulista (representante da vertente “consciente” do gênero). Ainda que a resposta esteja a um clique no Google, me apraz pensar que se trata de uma esquisita reunião dos nomes de um pouco expressivo Estado Norte Americano, escrito de forma estilizada – Missouri - com o de uma micro cidadezinha (se tanto) no interior fluminense, o Sana, tradicional refúgio de bichos-grilos .

Algo concebido durante uma partida de adedanha entre os integrantes do grupo, que ao se depararem com as respostas dadas na categoria CEP, vislumbraram uma associação entre dois locais tão improváveis.

O que me remete a mais uma enigmática relação geográfica & esotérica estabelecida por outro trio musical em suas letras, mas agora de trip-hop, o Massive Attack, com seu mântrico “Karmacoma, Jamaica and Roma”. A intangibilidade dos mistérios que rondam o ultra-complexo cosmo musical do novo milênio....

De qualquer forma, apesar de não alcançar nem de longe o genial poder hipnótico dos loops ocultos com multi-texturas produzidos pelo conjunto do Ataque Massivo de Bristol, o mais novo lançamento do Mzuri, “Ópera Obliqua” é um sopro de inovação para o rap feito no Brasil.

Na verdade, poderia dizer que “Ópera”, até certo ponto, não passa de uma obra bufa (ou apenas de um bufo, já que falamos de sopro) se levar em consideração a prosódia monocórdia emitida pelos MC´s do trio, muito comum entre rappers de São Paulo. Ao longo de quase todo CD, ouve-se sempre o mesmo flow inflexível e engessado, o que é uma pena ao se considerar que a produção das batidas e densidade das rimas excedem em originalidade e qualidade, com folgas, a média do que é feito por estas bandas.

Paulistas deveriam ser proibidos de cantar rap, por mais paradoxal que possa parecer, dado que o ritmo no Brasil é completamente identificado com a cidade de São Paulo, sendo indissociável do “mano” da periferia paulista, figura folclórica que chega às raias de, por vezes, arrogar para sí o monopólio do “movimento”. Mas essa questão são outros quinhentos, com perdão da quase rima...ainda assim, fato é que, por existir algo como a fluência do sotaque carioca, notoriamente o mais musical de toda lusofonia, a audição de um robótico emissor de “tÊatro,” “futÊbol” e “adÊvogado” faz-se por demais entediante.

De qualquer forma, pela qualidade técnica e, principalmente, literária de “Opera Obliqua”, o Mzuri Sana merece ser destacado no obtuso cenário do rap brasileiro.

Comments:
Já tinha ouvido umas duas músicas. realmente me apeteceu as rimas e os beats, a despeito do flow paulista. galera do rap de sp já percebeu, guiados pelos sempre sagazes e ditadores de moda, nós cariocas, que o rap precisa de um sopro de inovação, vide o trabalho realizado pelo líder d2, filial, black alien, etc etc. Nomes como SP Funk e Pastor Função, de sampa, já estão indo pra esse caminho. tem o mamelo sound system tb. mas eles são menos manos e mais dubs.
 
You write very well.
 
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